quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O tiro que parou o Brasil


Aquela parecia uma manhã como todas as outras, não fosse um tiro de um colt calibre 32. Um tiro, não qualquer tiro, mas um que entraria para a História brasileira como responsável pelo fim de uma de suas mais intrigantes personalidades: Getúlio Dornelles Vargas.  Era a manhã de 24 de agosto de 1954, o dia em que um tiro parou o Brasil, era o suicídio do presidente Vargas.. Cinquenta e sete anos passaram-se e, Getúlio continua sendo, possivelmente, o líder mais estudado, pesquisado, discutido e sobre o qual mais se tem escrito em nossa historiografia.
Temido ou amado, respeitado ou odiado, Getúlio Vargas marcou importante Era na história de nosso país. Portador de uma personalidade forte, para vários de seus estudiosos, Vargas encarnou o ditador e o populista sabendo se adequar às exigências do momento histórico em que vivia, sem deixar, entretanto, de perseguir suas idéias e determinações. O período getulista, que se inicia com a Revolução de 30, ensejou uma ruptura no poder das oligarquias do sudeste, representativas dos grandes fazendeiros do café.  Getúlio, o gaúcho que iniciara sua vida política em 1909, eleito deputado estadual e percorrendo uma carreira ascendente, assumia a presidência do Brasil devido a deposição, em 24 de outubro de 1930, do então presidente Washington Luís.
Era o início de suas duas gestões, de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Nesse período, o Brasil aspirava o projeto nacionalista desenvolvimentista que tentava a saída para um capitalismo autônomo, não atrelado aos interesses internacionais, mas aliado à idéia de modernização urbano-industrial. Tal proposta, todavia, ensejaria um universo mais amplo de realizações, quer visando a contenção das classes trabalhadoras, com a criação da Carteira de Trabalho e da Previdência Social (1932), o salário mínimo (1940), a CLT, Consolidação das Leis do Trabalho (1943)  ou com o projeto modernizador. Desse último, vale citarmos a criação da Companhia Siderúrgica Nacional, que entrou em operação em 1946 e a criação da Petrobrás, aprovada no Congresso em 3 de outubro de 1953.
Portador de uma capacidade ímpar de negociar com os mais diversos setores da sociedade, Getúlio Vargas é, ainda hoje, reconhecido por muitos de seus seguidores como o “pai dos pobres” alcunha granjeado devido ao seu estilo de governo paternalista, centrado em sua figura carismática que, entre outras coisas, “detinha a salvação do país”, concedendo benefícios importantes à classe trabalhadora. De certa forma, talvez isso explique a intensa manifestação e indignação popular com sua morte.. O povo, quando soube do ocorrido, saiu às ruas em todas as principais cidades do país enfurecido contra os setores oposicionistas de Getúlio. Carlos Lacerda,  o principal líder da UDN (União Democrática Nacional), histórico inimigo de Vargas teve, inclusive, que se refugiar no exterior.
Com seu gesto, Getúlio Vargas surpreendeu mais uma vez, derrotando seus opositores e adiando, por dez anos, o golpe militar de 1964.

Sugestão de Leitura

FAUSTO, Boris. Getúlio Vagas. O poder e o sorriso. São Paulo: Cia das Letras, 2006.

Jerri Roberto S. Almeida

sábado, 6 de agosto de 2011

NO RITMO DOS ANOS 80 - UM OLHAR SOCIOCULTURAL

 Jerri Almeida

Como esquecer a década de 80? Nessa época, o mundo passou por mudanças expressivas na geopolítica internacional, com impactos na sociedade e na cultura. O historiador britânico Eric Hobsbawm, em seu livro A Era dos Extremos, chegou a mencionar essa década como a "Era do Desmoronamento", tais os múltiplos eventos ocorridos nesse período que impactaram o mundo. Para nós brasileiros, essa década ficou profundamente marcada no contexto da transição para a redemocratização do país.
Aos poucos, um movimento foi tomando conta, mais e mais, da população brasileira que aspirava pelo retorno da democracia. No fim do ano de 1980, o Congresso finalmente aprova uma emenda constitucional que determinava a realização de eleições diretas para o governo dos Estados.  Em 1982 a população, após um longo tempo, pode escolher seus governadores. Era o prenúncio da transição sonhada por tantos brasileiros. Nesse período, Leonel Brizola assume o governo do Rio de Janeiro, tendo como vice o antropólogo Darcy Ribeiro. Iniciava-se, nesse ritmo, a campanha das Diretas Já para presidente do país. Militantes de várias orientações políticas e ideológicas se uniram para reivindicar o fim do estado de exceção, numa onda de manifestações que tomou conta do Brasil.
A ditadura atingia altos índices de impopularidade! Sob a liderança do deputado federal Ulysses Guimarães, do PMDB, o movimento das Diretas Já ampliava seu espaço, imaginando-se a sucessão do último remanescente dos governos militares: o General Figueiredo. É nesse momento que o Deputado Federal Dante de Oliveira envia ao Congresso sua emenda propondo eleições “diretas já” para presidente. Em meio aos comícios e passeatas que agitaram o País, ainda sob as pressões do decadente regime, a emenda é rejeitada.
O impasse, no entanto, seria decidido seguindo-se a velha tradição do autoritarismo brasileiro, com a realização de eleições indiretas para a escolha do novo presidente. Seguia-se, agora, a corrida política em torno dos nomes que concorreriam as eleições majoritárias no âmbito federal. As eleições terminaram polarizadas em dois candidatos: Paulo Maluf, candidato do PDS (Partido Democrático Social) à sucessão de João Batista Figueiredo, e Tancredo Neves pelo Partido da Frente Liberal (PFL) como candidato de oposição.  Em janeiro de 1985, o Congresso Nacional deu a vitória a Tancredo e seu vice, José Sarney. Chegava ao fim o regime militar que, por 21 anos, afastou a população brasileira das decisões políticas, amordaçando-a de maneira infame.
A década de 80 viu nascer a chamada Nova República no Brasil.  Mas o povo acompanhou a inusitada doença do novo presidente, o repentino internamento às vésperas de sua posse, seguido de sua morte. Foram as contingências da vida, mais do que as armações políticas, que – nesse caso – conduziram José Sarney ao posto de presidente da república. Depois disso, a sucessão de planos econômicos do governo, na tentativa de conter os altos índices de inflação que o país atingia, promoveu o aparecimento de figuras populares como as donas de casa que, regularmente, monitoravam os preços dos alimentos nos mercados, zelando pelo “congelamento dos preços”. Quem não se lembra  das “ fiscais do Sarney”?
No cenário televisivo brasileiro, o destaque foi José Abelardo Barbosa de Medeiros, o “Chacrinha”. Apresentador do programa de auditório de enorme sucesso, o Cassino do Chacrinha, foi responsável, com seu estilo singular, pela revelação de vários artistas no cenário musical brasileiro. Nos anos 80, tivemos uma verdadeira explosão do rock nacional. Bandas, saídas das garagens, passaram a ocupar a programação das rádios FMs, após fazerem sucesso no Programa do “velho guerreiro”.
O ritmo musical dos anos 80 foi bem diversificado. Ainda sob o forte impacto da ditadura militar, o rock brasileiro mostrou sua face contestatória nas letras da Plebe Rude, como nos rits: Proteção e Censura. Essa última tinha como refrão: “Unidade repressora oficial, a censura, a censura, única entidade que ninguém censura...” O chamado rock engajado discutia questões político-sociais mesclando um ritmo dançante com guitarras distorcidas e letras que criticavam, entre outros, o autoritarismo e o consumismo. Grupos como Ira, Legião Urbana e Titãs conquistavam cada vez mais o público adolescente da época.
Numa linha mais intermediária, mesclando letras românticas com críticas sociais, sobretudo investindo num estilo pop que permeava as danceterias, estava o RPM de Paulo Ricardo. Músicas como Alvorada voraz, Loiras geladas e Rádio Pirata embalaram e continuam embalando gerações.  Por sua vez, o rock irônico e debochado dos grupos Ultraje a Rigor e Camisa de Venus assumiam o lado rebelde da juventude onde temas como sexo, ciúme, relacionamentos, regados a uma boa dose de humor, eram os destaques nas letras. Lembremos de: Inútil, Ciúme, Nós vamos invadir sua prária (do Ultraje), e Eu não matei Joana D´arc (do Camisa).
A rigor, o grande evento musical dos anos 80 foi realizado em janeiro de 1985. O evento que reuniu aproximadamente 1.400 mil pessoas, foi realizado no Brasil numa atmosfera geral de euforia no contexto da eleição de Tancredo Neves: o Rock In Rio. Foram 10 dias de muita música numa verdadeira “cidade do rock” (uma área de 250 mil m2 na Barra da Tijuca – Rio de Janeiro) num impacto internacional que colocou o Rio de Janeiro no roteiro dos grandes shows mundiais. Artistas nacionais como Pepeu Gomes, Barão Vermelho, Gilberto Gil, Rita Lee, Paralamas do Sucesso, entre outros, se apresentaram com grandes estrelas da música internacional como, por exemplo: AC/DC, George Benson, B52, James Taylor, Iron Maiden, etc.
Nesse período destacou-se, também, o rock gaúcho.  As “bandas de garagem” aqui tiveram sua plenitude, sobretudo, a partir de festivais promovidos por cursos pré-vestibulares na Capital. Nessa década emergiram grupos como: Taranatiriça, Replicantes, TNT, Garotos da Rua, Cascaveletes, entre outros.  Os shows e as danceterias, ambos realizados no espaço social de clubes das cidades, atraíam os adolescentes nos finais de semana.
Se for verdade que os anos 80 representaram uma verdadeira virada na história contemporânea, também é verdade que o ano de 1989 demarcou, simbolicamente, o fim da divisão do mundo em dois extremos ideológicos com o fim da guerra fria. Em certos momentos a produção artística antecede os fatos históricos. Foi o que aconteceu com a banda gaúcha Engenheiros do Hawaii ao lançar seu disco, talvez, mais popular: O Papa é pop, cujo destaque era a música  Alívio imediato. A letra fazia referência direta ao “Muro de Berlim”, antes de sua queda:

Há um muro de concreto
Entre nossos lábios
Há um muro de Berlim dentro de mim
Tudo se divide, todos se separam
Duas Alemanhas, duas Coréias
Todo se divide, todos se separam
Que a chuva caia como uma luva
Um dilúvio, um delírio
Que a chuva traga alívio imediato
Que a noite caia, de repente caia
Tão demente quanto um raio
Que a noite traga alívio imediato.

No ano em que se comemoravam os 200 anos da Revolução Francesa (1789-1989), na madrugada do dia 9 de novembro, o Muro de Berlim, tão “demente”, caiu como um “raio,”  preconizando o fim da utopia socialista do Leste Europeu e garantindo, a partir daí, a hegemonia americana no mundo. Lembremos que desde 1985 a União Soviética passava por crises e mudanças internas.  As reformas de Gorbachev conduziram  a URSS ao chamado fim do socialismo real, advindo sua fragmentação em diversas repúblicas no início dos anos 90.
Mas, o mundo também havia se assustado com a explosão, anos antes, do reator principal da usina nuclear de uma, até então, desconhecida cidade do norte da Ucrânia: Chernobyl. Com a explosão uma nuvem radiativa espalhou-se por diversos países da Europa e da Ásia, contaminando pessoas, animais e o meio ambiente. Até hoje os efeitos devastadores da radiação se fazem presentes nos países atingidos, através de doenças como o câncer.
Crises, explosões, contestações...Liberdade! Liberdade que os jovens berlinenses por tanto tempo esperaram. Mas também os estudantes chineses, movidos por suas  angústias diante de um governo totalitário, invadem a “Praça da Paz Celestial” em Pequim , em 15 de abril de 1989.  O protesto se estendeu por semanas e agregava cada vez mais pessoas. Esperava-se que a abertura política que ocorria no Leste Europeu envolveria também a China. A imprensa internacional realizava uma grande cobertura desses protestos por abertura e liberdade. Todavia, a liderança do Partido Comunista Chinês determinou que as manifestações deveriam acabar  a qualquer custo.
O exército recebeu ordem de dispersar a multidão. No dia 5 de maio, o mundo assistiu surpreso um jovem manifestante colocar-se diante de uma fila de tanques que marchavam para dispersar a multidão. O nome desse jovem e do seu destino nada se sabe. Mas o sonho de uma China democrática morreu junto com os manifestantes na “Praça da Paz Celestial”.
Como poderíamos perder o ritmo dos anos 80, onde a juventude vivia sem computador, internet, MSN, Orkut, celular, mp3...?  Para muitos, no entanto, a década trazia mudanças que, de certa forma, sinalizavam o fim das ilusões: “Ideologia, eu quero uma pra viver”,  “a gente não sabemos escolher presidente”, "ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação”. E, finalmente, nós brasileiros nos indagávamos: “Que país é esse?”
Lembremos que a história é um processo de mudanças e de permanências. O século 21 apresentou-nos um novo panorama sociocultural, sem dúvida, mas foi na década de 80 que nos sentimos, e refiro-me a geração dos “quarentões” de hoje, um pouco mais protagonistas da história.  

Referências
 
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. O breve Século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
PESAVENTO, Sandra J. O Brasil Contemporâneo. 2a. Ed. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1994.
Cultura e Música anos 80, disponível em: http://www.autobahn.com.br/


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

SURGIRAM MUDANÇAS, MAS A EXPLORAÇÃO CONTINUAVA – O BRASIL NA REPUBLICA VELHA (1889-1930)

 Prof. Jerri Almeida
Texto para o 5º Semestre

Após o golpe militar que acabou com monarquia, o Brasil mudava sua forma de governo e se transformava uma República. Uma nova bandeira foi criada para substituir a antiga bandeira do Império. O lema da bandeira nacional: “Ordem e Progresso” veio da filosofia positivista do francês Augusto Comte, que pregava que o progresso somente pode ser atingido através da ordem.
Em 1891 foi estabelecida uma nova Constituição para o Brasil. Ela estabelecia, entre outras coisas:
Como forma de governo – o Brasil adotava a República e seus agentes políticos (presidente, governador, prefeito, deputados, senadores, vereadores) exerceriam mandatos por tempo limitado e seriam eleitos pelos cidadãos;
A forma de Estado – o Brasil adotava o “federalismo”, isto é, os estados teriam liberdade para eleger governador e deputados. Cada estado teria sua Constituição própria, que, entretanto, não poderia contrariar as normas da Constituição Federal;
Sistema de Governo – o Brasil adotava como sistema de governo o presidencialismo, ou seja, o presidente da república exerceria o poder executivo máximo, sendo auxiliado por ministros.
Ocorreu na 
época do
 ImpérioNos primeiros tempos da República, predominou o poder político nas mãos dos militares, mas logo depois, a partir de Prudente de Morais (1894-1898), instituiu-se uma oligarquia política onde o poder passou a ser dominado pelos grandes fazendeiros. Tal como ocorria nos últimos anos do Império, o voto continuou a ser permitido apenas às pessoas alfabetizadas, maiores de 21 anos. Estavam excluídos do direito de voto os: mendigos, criminosos, soldados, as mulheres (que eram, nessa época, quase metade da população) e os religiosos. Além disso, o voto era aberto, ou seja, o eleitor era obrigado a revelar publicamente o candidato em que votou, o que possibilitava aos grandes fazendeiros pressionar os eleitores na hora da votação.
Naquela época não existia também uma “justiça eleitoral”, como existe hoje, para fiscalizar as eleições. Sem um controle sério sobre as eleições, o processo eleitoral sofria as mais diversas fraudes: havia pessoas que votavam com o nome de outras pessoas que já haviam morrido; pessoas que votavam duas vezes, etc. O controle do processo eleitoral estava, portanto, nas mãos das elites dominantes.
Foi nessa época, também que o casamento passou a ser feito por um juiz, num cartório e passou a ser considerado o único legitimamente reconhecido. Assim, o casamento oficial deixou de ser feito na igreja para se realizar no cartório. Houve uma separação entre a Igreja e o Estado e, com isso, o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado Brasileiro.
No período da República Velha, o chamado “coronelismo” existiu em diversas partes do Brasil, do Nordeste ao Rio Grande do Sul, só que de maneira diferente. De forma geral, podemos considerar por coronelismo o poder local dos grandes fazendeiros. O coronel, caracterizado pelo prestígio e poder de mando, era o chefe político local ou regional, geralmente um latifundiário, cujo poder era maior ou menor de acordo com o número de votos por ele controlado para assegurar nas eleições a vitória dos seus candidatos. .
Geralmente, o coronel exercia uma série de funções que o fazem temido e obedecido. Ele dispensava favores para seus empregados e conhecidos, ajudando doentes, arrumando empregos, apadrinhando os filhos de amigos e serviçais. Aos familiares e amigos ele distribuía empregos públicos, emprestava dinheiro, protegia-os da polícia e de inimigos políticos. Todos esses “favores”, no entanto, eram devidamente “cobrados” em época de eleições, quando o fazendeiro exigia o apoio para seus candidatos políticos.
O famoso “voto de cabresto” era outra tática usada pelos grandes proprietários rurais. Tratava-se de pressionar ou coagir o eleitor a votar em determinado candidato utilizando-se, para isso, dos seus jagunços e, até mesmo, de matadores profissionais para intimidá-lo.  
Do pondo de vista econômico, o grande produto de exportação foi o café. O segundo produto  foi a borracha da Amazônia, superando o açúcar. Era grande a compra desse produto pelos países mais desenvolvidos, principalmente, após a invenção da bicicleta com pneus de borracha, e, depois, com o surgimento do automóvel.
No nível federal, a República Velha manteve, por um bom tempo, a chamada “política do café-com-leite”. Essa política se caracterizou pela liderança dos chefes políticos do Partido Republicano Paulista e do Partido Republicano Mineiro, e resultou, entre outras coisas, num revezamento de presidentes paulistas e mineiros até 1930. Na prática, a política do café-com-leite foi um acordo entre os grupos políticos de São Paulo (que produzia café) e Minas Gerais (que produzia leite) para um apoio mútuo em época de eleição para presidente. Nessa época esses dois estados (SP-MG) possuíam a maior quantidade de eleitores do país, de forma que eles, juntos, podiam decidir as eleições. Em uma época, Minas indicava o seu candidato e São Paulo o apoiava. Quando seu mandato terminava, era a vez de São Paulo indicar o seu candidato, e Minas o apoiava. 
Na prática, nessa época não havia efetivamente uma “democracia”, pois a população mais pobre era facilmente manipulada pela classe mais abastada. Mas isso não significa que o povo brasileiro era passivo diante da exploração. Durante a República Velha houve várias revoltas populares contra o governo. Uma das mais significativas foi o movimento messiânico de Canudos, no sertão do nordeste, sob a liderança do beato Antônio Conselheiro. Seu propósito era reunir o povo pobre e oprimido numa grande comunidade independente do governo republicano. Conselheiro era monarquista e defendia a volta do antigo regime. Reuniu um grande número de seguidores, fundando no interior da Bahia, o arraial de Belo Monte, ou Canudos. Lá, os sertanejos construíram suas casas e não pagavam impostos ao governo. Rapidamente a população cresceu. Calcula-se que lá viveram entre 20 a 30 mil pessoas. Tudo isso desagradou, tanto a Igreja Católica, como os grandes fazendeiros e o próprio governo republicano, que, finalmente, empreendeu uma grande marcha contra Canudos. Após vários conbates, a cidade foi totalmente destruída, e Antônio Conselheiro foi morto.  
No final dos anos 20, uma crise política entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, definiu novas configurações para as eleições presidenciais, em 1929. O candidato vencedor representava os interesses das velhas estruturas agrárias, sobretudo de São Paulo. O grupo perdedor, da Aliança Liberal, que reunia os estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, não aceita o resultado e, com o apoio de parte dos Tenentes do exército, faz uma revolução armada e depõe o então presidente Washington Luiz. A revolução cresce no Brasil, e os militares, após alguns dias no comando do país, entregam a presidência da república ao chefe da revolução: Getúlio Vargas.
A revolução de 1930 representou uma ruptura com as oligarquias agrárias iniciando um novo projeto de desenvolvimento para o país, centrado numa idéia urbano-industrial, comandada por Vargas.  Getúlio, portanto, assume como presidente do Brasil através de uma revolução, e permanecerá no poder executivo federal por quinze anos diretos. Por isso, o período entre 1930 a 1945 foi denominado: “Era Vargas.”