domingo, 2 de outubro de 2011

UM OLHAR SOBRE A PÓS-MODERNIDADE


O Pós-Segunda Guerra Mundial gerou não somente uma mudança na geopolítica internacional com o advento da Guerra-Fria, mas, igualmente, ensejou uma nova dinâmica no âmbito das relações humanas, estruturada sob a égide de uma sociedade tecnológica. Essa sociedade do pós-guerra,  que propôs rupturas com a idéia de totalidade ou universalidade de valores – no mundo Ocidental – é,  genericamente, denominada pós-moderna ou pós-industrial.  Enquanto a  Modernidade foi representada pela sociedade industrial que valorizava a disciplina, o controle, a estabilidade... a pós-modernidade caracteriza-se, justamente, pelo princípio da incerteza, insegurança e da relatividade. 
Na modernidade, a vida individual e coletiva era pensada a partir da idéia de um tempo linear, isto é, o passado servia de experiência para ordenar o presente e, tudo aquilo que não se lograva conquistar no presente, projetava-se em aspirações e expectativas para o futuro, ou seja, construía-se um projeto, uma meta e buscava-se persegui-la.
Em oposição a este quadro, a pós-modernidade caracteriza-se, entre outras coisas, pela ruptura com esse tempo linear: passado, presente e futuro. Fixando-se essencialmente no presente através do desejo de viver intensamente o momento. A procura pelo prazer imediato, a valorização extrema da imagem sobre a realidade, a cultura do consumo, o individualismo e a competição, ao invés de gerarem felicidade, têm construído painéis  de solidão, medo e vazio existencial.
Transitamos de uma sociedade repressiva, em todos os níveis (governos ditatoriais, família patriarcal, escola autoritária, fábricas opressoras...daí o rompimento com a idéia de “totalitarismo”, também vinculado à noção dos valores) e, no ímpeto por liberdade, adentramos num modelo de sociedade diametralmente oposta, onde tudo passou a ser permitido. Confundiu-se liberdade com libertinagem e acabamos no dilema shakespeareano do “ser ou não ser”.
Na arte, principalmente no cinema, temos a expressividade desses novos paradigmas. O Exterminador do Futuro e O Caçador de Andróides, entre tantos outros, passam-se num mundo técnico com novas regras de trabalho e ambiente biotecnológicos. Temos, portanto, o retrato da percepção caótica do espaço-tempo ou a arte do fantástico e do hiper-real.

Características da Pós-modernidade:

Incerteza: tudo parece ser incerto, falta de rumo, de segurança...;
Relatividade: cada pessoa é que deve definir os seus valores;
A fragmentação dos valores e a cultura do “descartável”: usa-se e, rapidamente, se “descarta” em busca no “novo”, do “último modelo”, etc;
Ruptura com um tempo linear: “viver o momento ao máximo” – o que importa é o “aqui e o agora”;
Hiper-real: a valorização extremada da “imagem”, da “aparência”, do “padrão de beleza imposto pela sociedade”;
Hedonismo: a busca do prazer imediato, custe o que custar;
Virtualização: “namoro virtual”, “sexo virtual”, “amigos virtuais”, “comunidades virtuais”...:

Os dilemas da vida pós-moderna projetam no seio da família múltiplas turbulências na área dos valores e dos relacionamentos. Na agitação da vida hodierna, muitos pais  preocupam-se unicamente em amparar materialmente seus filhos, negligenciando, muitas vezes, a educação moral, formadora do homem de bem. A criança socializa-se muito cedo nas creches e dispensa outras longas horas na frente de um televisor, com mensagens consumistas, agressivas e sensuais. A ausência do diálogo construtivo e orientador, na intimidade doméstica, substituído pelas conversações estéreis e negativistas, colaboram para a modelagem de um quadro sócio-educacional-familiar  muito delicado, exigindo imperiosa revisão.
Do exposto, resta-nos o desafio de estruturarmos novos e significativos referenciais de vida no seio familiar, capaz de contrapor o niilismo ou o vazio existencial que se socorre na ânsia pela posse. Depreende-se, portanto, que os dissabores da pós-modernidade, refletem a figura de um ser humano preocupado e absorvido, exacerbadamente, pelos valores externos. Compreendemos que seja necessário perseverança, em termos educacionais, para resignificarmos os valores dessa sociedade utilitarista e massificada.  O diálogo no lar, alicerçado no exemplo comportamental do pais, ensejaram às bases indispensáveis para a construção do respeito e da identificação  familiar com os valores ético-morais-espirituais. A colheita desses resultados será obra do tempo, a semeadura, entretanto, é tarefa do hoje e pertence a todos nós.

Indicações de leitura

BAUMAN, Zigmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

HALL, Stuart. A identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editores, 2003.

LIPOVESTSKY, Gilles. A Sociedade da Decepção. Barueli/SP: Manole, 2007.